COISA CRÓNICA

o mercado literário português é, tal como a sua língua, altamente prostituta e não tem qualquer pudor (sem falar do acordo ortográfico ou das TLEBS). Já explico, há uns anos surgiram debates e algumas políticas que procuravam “convidar” a passar nas rádios, mais música portuguesa, contudo, os grupos depressa se aperceberam que se cantassem em Inglês o sucesso junto das grafonolas seria imediato. Ainda há dias estava a ouvir um programa que alegava só passar música portuguesa, mas o que pude lá escutar foram grupos portugueses a cantar em inglês… ora, a verdade é que na literatura portuguesa passa-se algo assim parecido. Vários são os escritores nacionais de grande qualidade que não conseguem simplesmente ter qualquer visibilidade na comunicação social, por sua vez qualquer “merda”, vinda do estrangeiro, tem logo capa e todo o tempo de antena necessário. Recentemente encontrei nos escaparates de várias livrarias, uma obra de um jovem escritor estrangeiro com apenas um só livro publicado, aquele, vindo não se sabe bem de onde, com que experiência ou linhagem, apenas caiu aqui, “PUM” e já é mais conhecido do que qualquer um dos nossos jovens autores. Mas não é só para quem escreve em língua estrangeira, tão curioso como estes - embora também escrevam em português - são os autores da dita lusofonia. Já se sabe que é mais fácil, por exemplo, um autor brasileiro entrar em Portugal do que o contrário. Tanta lusofonia fez me lembrar um pouco aqueles portugueses que andam no estrangeiro e que quando ouvem alguém a passar por eles a falar português cumprimentam-no como se fossem amigos lá no país de Camões… sem dúvida alguma posso afirmar que um escritor da lusofonia tem três vezes mais fanfarra e escaparate do que um escritor luso com anos de edição… estarei a ser incorrecto por estar a afirmar uma coisa destas? Assim o seja, ao menos serei o único a dizer tal "aberração". Geralmente, gosto de descobrir novos autores portugueses, mas graças ao preço dos livros, bem como ao desconhecimento total dos seus nomes e livros pouco ou nada divulgados ,me interrogo sempre se deva ou não comprar, com medo de estar a dar um tiro no escuro (e os livros estão caros...)

Ouço falar, constantemente, de máquinas económicas e interesses que fomentam o esquecimento dos autores portugueses e que os trocam, como prostitutas de quarto, por outros autores estrangeiros. De um modo geral, os autores portugueses são mal tratados e têm a triste sina de estarem num país que os condena ao esquecimento. Mesmo autores bem conhecidos, como por exemplo, José Cardoso Pires, Vergílio Ferreira, etc... entre outros, que cada vez mais se deixam de ouvir no meio da cacofonia da tradução...

Para acabar, um dos expoentes máximos deste tipo de máquinas produtivas, que tanto se dedicam ao mercado livreiro como se poderiam dedicar ao mercado agrícola (calhou!), são, por exemplo, os escaparates de algumas livrarias comerciais que fazem do livro um mero negócio, tomemos como exemplo a livraria Bertrand. A esta chamaria até, em vez de livraria, algo mais digno do seu nome, a Mercearia Bertrand. A meu ver, esta mercearia é o expoente máximo do que estou para aqui a tentar dizer. A maior parte das livrarias que conheço, pertencentes a este grupo, têm apenas uma tímida fila de livros classificada com o nome de “autores lusófonos” e onde cabe lá tudo que pareça falar português.

De facto, são raras as livrarias dignas de ter este nome, mas, eis que apareceu uma luz ao fundo do túnel, as Livrarias Independentes... será? Sim, também será conversa para o próximo COISA CRÓNICA

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