A COISA CRÓNICA (Os Espaços em Volta de um Livro)

tenho comigo grande parte dos ensaios editados pela Vendaval. Quem passa cá por casa, facilmente, se apercebe do enorme "vendaval" ensaístico das leituras que faço. Por entre estas, intencionalmente destaco - nas ditas prateleiras - os ensaios de João Barrento, Silvina Rodrigues Lopes, Luís Mourão, Paula Morão... principalmente daqueles ensaístas que realmente dizem, mas não repetem. Depois, junto o útil ao agradável e coloco, em lugares estratégicos, espalhados um pouco por toda a casa, alguns livros já lidos que, como objectos, se destacam sobretudo pela grande beleza minimalista, que funcionam, para além da leitura, como decoração livresca.
Na verdade, o livro não é só uma mala de palavras e sentidos, ele é também um objecto que, infelizmente, está cada vez mais negligenciado. É uma verdade que o objecto esquizofrénico chegou também às livrarias em forma de livro, apesar de o não ser. Mas o que me repele é saber de pessoas, inclusive críticos de algumas revistas dedicadas à leitura, que dizem gostar de o ter (e não de o ler), e se referem ao objecto de néon, como tendo uma boa capa, por isso um bom livro...

Poucas editoras entendem o livro como um objecto belo, que serve, para além de livro, como um objecto de adorno artístico, a aguardar e a desejar sempre a passagem e a leitura. Ora por entre as editoras sérias que constroem objectos que devem ser lidos (e não livros que desejam ser objectos), estão editoras como: Labirinto, Quasi, Quidnovi, Algelus Novus (nova edição), Vendaval...

Recentemente, as Edições Vendaval mostraram a sua corajosa teimosia ao editarem uma outra voz no campo da crítica literária, estou-vos a falar de "O Espaço Sem Volta" de Marco Alexandre Rebelo. Marco Alexandre Rebelo nasceu a 28 de Janeiro de 1976, em Moçambique, é autor da obra Nietzsche, Pessoa, Borges: Por trás das máscaras (in)voluntárias do acaso (&etc); para além de outras participações em Revistas e Catálogos. "O Espaço sem Volta" vem acrescentar um estudo sobre o fabuloso livro de contos "Os Passos em Volta" (prosa poética ou poesia em prosa?) de Herberto Helder, numa intertextualidade "baudelairiana."
Mais um objecto a desejar ser lido. Aguardo pela sua chegada