Em Agosto - Diários de um Real-Não-Existente

Usualmente aceitamos como verdade o que, na maioria das vezes, não passa de estereótipos formados pela impostura da língua de um discurso constituído sob a máscara do poder. O que o estereótipo pretende é a unificação de um único sentido da palavra. Faz-se uma revolução para acabar com um mecanismo de poder e ele logo reaparece, sob uma máscara nova, mas com os mesmos princípios autoritários e opressores. E é neste sentido que (…) encontramos algo que incomoda a autora, a constatação, em 26 de Agosto de 1975, um ano e meio após a Revolução dos Cravos, de que Portugal rompeu com o autoritarismo salazarista, mas não se livrou da ligação com o poder (…) Não que Llansol subestime a importância, nem as conquistas da Revolução; mas incomodam-na os novos moldes de linguagem, ou seja, os novos estereótipos e a nova verdade elaborados pelo vencedor do momento. Como diz a própria autora num e noutro lugar há impostura e é por isso que sua literatura se desvia dos sentidos habituais das palavras, numa tentativa de contornar a impostura da língua, tornando, desta maneira, exequível a liberdade de consciência fora da própria linguagem.

Diário de um real-não-existente, Carlos Vaz

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