a leitura não se ensina, contagia-se

nesta tarde chuvosa li "Hábitos e Atitudes de Leitura dos Estudantes Portugueses", por Rui Vieira de Castro e Maria L. D. Sousa, disponível aqui. Segundo o estudo, a criação de um hábito de leitura entre os jovens decresce à medida que se progride na escolaridade, uma vez que a escola não oferece mecanismos necessários para uma aquisição do prazer da leitura. À medida que o aluno progride na sua escolaridade, a escola deixa de responder às necessidades e interesses para uma correcta promoção da leitura, pois:
os estudantes progridem na escolaridade, com a escola a não entender os estudantes mais avançados como leitores "em construção.
Já em casa o problema parece ser idêntico, os pais não partilham o prazer da leitura, não há uma valorização da mesma, chegando mesmo a ser a actividade menos preferida pelos jovens nos seus tempos livres.
A par destes hábitos estão também as idas às livrarias. Mais de um terço dos estudantes inquiridos neste estudo afirma não ter o hábito de ir a livrarias:
esta prática tem maior ex-pressão junto dos estudantes mais velhos (35,9%) do que dos mais novos (29,1%); mais de 70% dos estu-dantes do 3º ciclo afirma "nunca" ou "apenas algumas vezes" costumarem ir a livrarias a fim de se manter a par das novidades publicadas.
Quanto aos géneros literários escolhidos, poucas surpresas:
mais de metade e mais de um terço dos inquiridos dizem que, respectivamente, os "livros de aventuras" e a "banda desenhada" são os tipos de livros que eles lêem "muitas vezes"(…) enquanto que "romances e novelas" se tornam os livros preferidos pelos alunos mais adiantados. Este facto deve ser entendido à luz de uma influência "directa" da escola; é no ensino secundário que, de forma mais sistemática, os estudantes são confrontados com a leitura de romances e novelas.
Há uma nítida desvalorização da leitura por parte dos jovens que não se vêem identificados no tipo de livros sugeridos pela escola. Parece que os professores e os pais não conseguem acender a magia da leitura, por também o não fazerem ou não partilharem os seus momentos com um livro sugestivo. Na verdade, há uma correcta aposta da leitura nos primeiros anos de escolaridade, mas logo depois é abandonada e substituída pelo Programa (de interesses), os exames e os rankings.
O prazer de ler não se ensina, contagia-se, por isso no combate pela promoção da leitura todos estamos de acordo:
se os sujeitos crescem numa comunidade onde a leitura é algo de tão natural como a prática de desportos, por exemplo, ou onde necessidades de leitura são criadas, quando chegarem à idade adulta é mais provável que tais hábitos de leitura venham a emergir.

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