WISHFUL THINKING
da construção à destruição do mundo (literatura vs Bush)

Título: Subestitute

encontrei uma curiosidade, na página ciberdúvidas, sobre a outra face dos sonhos da casa, os sonhos acordados ou despertos, como lhes chamei outrora, na obra A Casa de Al'isse. A tradutora Marília Rodrigues, Niterói, Brasil, perguntava a possível tradução para a expressão pensamento veleitário, do inglês wishful thinking.
A resposta de Carlos Rocha foi a seguinte: o Dicionário Webster's Inglês-Português (Lisboa, Círculo de Leitores, 1988), de Antônio Houaiss e Ismael Cardim, apresenta uma entrada exclusiva desta expressão tão característica do inglês: «wishful thinking, s. pensamento veleitário, o que se desejaria que fosse realidade, crença baseada em crenças e não em factos, racionalização de desejo, errónea identificação dos próprios desejos com a realidade.»
No entanto, outros dicionários dão definições com base em palavras correntes:
«sonhar acordado» (The Oxford Portuguese Dictionary, 1996);
«ilusões» (p. ex. em «it's wishful thinking on my part» = «Não passa de ilusões da minha parte», Dicionário Oxford Pocket para Estudantes de Português, 1998);
— «ilusão» (p. ex., «this is wishful thinking» = «isto é uma ilusão», Dicionário Verbo Oxford Inglês-Português, 2003)

Quando denominei os três romances (Seres de Rã, A Casa de Al'isse e o Capricho 43) de Trilogia da Experiência, procurei, com isto suscitar no leitor o encontro experimental através de uma viagem pelo wishful thinking das três obras. Não criei nada de novo, pois procurar dar uma ilusão no pensamento do leitor é uma “técnica literária” que existe desde sempre, só que os contemporâneos procuram nela um mecanismo científico de experiência, a mesma experiência do princípio da incerteza.

Recentemente, li na obra Pequeno Tratado Sobre as Ilusões, de Paulinho de Assunção, esta experiência, que acabo de descrever, com as incertezas suscitadas pelas ilusões de um objecto observável. Tal como neste autor, as incertezas são, na verdade, pensamentos veleitários, sonhos despertos, sonhos que acolhemos entre nós com um corpo que desejamos encontrar na realidade farta, um espaço de dilatação, uma mescla científica de caprichos, uma vez que as aceitamos e contemplamos, lá, do nosso buraco, como parte de nós fora desse mesmo espaço de claustrofobia que nos aperta contra as paredes da realidade.
Procurar os mendrugos na terra, aceitar os mendrugos na realidade é um dos tantos sonhos acordados do homem, um encontro científico com a incerteza da observação, um wishhful thinking, um pensamento desejado, em vez de racionalizado.

Mas não é só na literatura que podemos encontrar estes pensamentos. Quando mal usados e interpretados, em mãos erradas, como o fantástico caso das decisões de Bush que viu armas onde não existiam e perseguiu o seu próprio wishful thinking pela qual muitas vidas ainda estão a lutar. E um pensamento poderoso, como este, quando mal usado, pode até destruir o mundo. Por sua vez, nos livros este mesmo pensamento, gera precisamente o contrário, faz construir outras realidades, outros mundos...
...corrijam-me os tradutores se por ventura me enganei

Comentários

Anónimo disse…
Como tradutor dir-lhe-ia que não precisávamos nada de tal criação - «veleitário», ainda que palavra bem formada, de «veleidade», no sentido de quimera, fantasia - pois o nosso «tomar os desejos por realidades» ajustar-se-ia perfeitamente. Dependendo, evidentemente, do contexto, mas poderia adiantar-lhe uma tradução, digamos, mais filosófica, para a qual, creio, aponta, ou parece apontar, com o exemplo do menino americano a brincar às pessoas crescidas: «raciocínio caprichoso».
Abraços
PS-A imagem é fantástica!

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