A COISA CRÓNICA
o defeito é a maior expressão de liberdade. O 25 de Abril nasceu por defeito, numa perfeição que se cria despótica. Mas a democracia ao procurar aperfeiçoar-se, ao procurar, ela própria, a sua perfeição, também se transformou numa outra tirania. A democracia perfeita é a maior ditadura de todas, por criar a estabilidade ensonada, a ilusão sintomática de liberdade. Onde não há democracia há uma luta até à exaustão dos povos, os que já a têm como adquirida, que é o nosso caso, vivem iludidos, na sopa do que foi a revolução...
Mas voltemos ao tema, todos somos iguais ao sermos seriados como produtos de uma fábrica sobre a passadeira movediça da produção. Peça com defeito vai para o lixo, a nova estética da exigência do bonitinho manda-o para o chão.
Na democracia portuguesa quem tem defeito é agora ainda mais depressa despedido. Esquecemos assim do que é feita a democracia, de defeituosos como nós.
Num pais de pernetas, mesmo quem tem o dom de andar normal, tem de mancar.
A democracia perfeita é azeda como o leite estragado. As diferenças são apenas autorizadas no plano mais pomposo e chamativo da coisa, mas não no mais economicista da competitividade. Se Salazar fosse hoje vivo, fosse hoje o ditador que era, mas inserido (se fosse possível) numa Europa globalizada, a opressão seria chamada de competitividade, e a quem se movesse contra ele seria um defeito chamado inadaptação.
Na rua temos de dizer que a “bufa” cheira a rosas, quando na verdade não.
Por isso vos digo, amigos perfeitos, a liberdade tem de ser defeituosa, muito defeituosa, estrondosamente defeituosa, caso contrário continuaremos a dizer que a “bufa” que cheiramos são rosas, quando o nariz nos diz sempre que não e não
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