"O homem é a única prioridade absoluta"
com a morte de Saramago não ficamos apenas mais empobrecidos no universo literário português, hoje perdemos sobretudo a voz de um defensor por uma sociedade mais crítica e até mesmo mais humana. Vendo bem, Saramago não foi apenas um escritor, pois diz-me a experiência que, enquanto tal, os seus livros deram-lhe somente o aconchego da mão, nas histórias agora dissecadas e inusitadamente estudadas. Vendo bem, os livros dele nunca tiveram esse intuito, na verdade as suas obras não procuravam a fruição - a ver pela dificuldade e resistência frásica - pelo contrário, os textos tinham o mesmo objectivo dos contos orais, destinavam-se a serem falados mesmo por aqueles que o não liam, dirigiam-se assim ao povo, à sociedade, ao humano, educando-os, de certo modo, para a correcta e verdadeira cidadania activa. Saramago tinha assim esta crença de poder mudar o mundo através dos seus livros (o que de certa maneira o fez, causando incomodo e perturbação em mentalidades e em ideias fixas que aparafusam tudo e todos à alçada das várias formas camufladas de poder).
Com a morte de Saramago perde-se assim uma voz única na já rara escrita oral contemporânea, a escrita da qual se fala como objecto de uma nova proposta de paradigma, mesmo que seja sobretudo mental, cujo incómodo leva os seus livros ao parlamento, à igreja; à escola e à família... e é essencialmente isto o que, com a morte de Saramago, faltará neste buraco cada vez mais vazio
Com a morte de Saramago perde-se assim uma voz única na já rara escrita oral contemporânea, a escrita da qual se fala como objecto de uma nova proposta de paradigma, mesmo que seja sobretudo mental, cujo incómodo leva os seus livros ao parlamento, à igreja; à escola e à família... e é essencialmente isto o que, com a morte de Saramago, faltará neste buraco cada vez mais vazio