para ti

gostava que o mundo residisse apenas no corpo
num gesto do cabelo
do cheiro
sentar-me no abismo do mundo
contigo
e contemplar o vazio
antes de nos jogarmos
sobre a imensidão do nada

gostava tanto
de ser a curvatura do sorriso
os sonhos da infância
ser a tua infância
sentar-me no abismo do mundo
contigo
e gritar o nome das coisas
antes de nos jogarmos
sobre a imensidão do nada

tanto gostava
de ser o lábio com que suportas o peso das palavras
o alento que aquece o corpo sentado à beira do abismo do mundo
contigo ser
a flor que sustentas atrás da orelha
sobre a imensidão do nada

gostava tanto de ser
nada
o nada que se esvazia
por nunca ousar tocar sequer no poema
que aos poucos liquidifica
à medida que o corpo colhe o leito
até caber nele
e preencher de vazio toda a imensidão do nada

Carlos Vaz

Comentários

Anónimo disse…
Pois é, há coisas que não morrem,assim que são escritas. É nisso que reside o tesouro dos pobres escibas como nós. Há sempre coisas que não morrem Carlos, é tão interessante sentir esse latejar das coisas normais e tão fundas que guardas e raramente mostras. É, meu amigo, este texto não vai morrer. È fantástico que assim seja, não é? Abraço
Pompeu

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