"royalmente" Royal

recebi, da editora Labirinto, o novo livro de Pompeu Miguel Martins.
João Artur Pinto tinha-me alertado que o enviara, por isso, eu andava há já alguns dias a rondar a caixa de correio... e eis que chegou. Apressei-me a abrir o envelope, folheei o livro de capa branca, própria de um diário, que convida a respirar a frescura dos dias de uma boa escrita na prima persona. E ganhei algum tempo a observar o livro como se tratasse de um quadro. A meio da capa, a tranquilidade gerada pela foto do autor que creio estar a sorrir com os dias com que nos escreve. As mãos juntam-se ao rosto e traçam uma linha tangencial como se a face serena fosse também uma palavra inteiramente feita da surdez que caracteriza a imagem. É uma foto a preto e branco.
Um terço da capa evidencia uma máquina de escrever Royal, amarelenta como o tabaco dos dias ou a doença do quotidiano que deixa aqui e ali o rasto, que a caracteriza, na própria escrita.
Neste momento, tenho o livro mesmo aqui ao meu lado. Pouso o olhar, na fita que nos interpela como uma legenda a servir de parapeito da janela textual: Uma obra confessional e reflexiva, concreta e livre, feita de chão e de sonhos, enfim, feita do território tão inesgotável que é a alma humana.
Sento-me perto da luz, lá fora as pessoas passam e os carros bufam cansados. Abro, religiosamente, as primeiras páginas do livro para beber as águas que delas me escorrem para os pés. Da cabeça desce uma língua, como só os cães o fazem, no afecto dos dias, para se refrescarem nas poças que humedecem as primeiras páginas deste livro

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