o fiasco foi à feira


nos últimos tempos tem se debatido a fraca afluência às Feiras do Livro, não só a de Porto e Lisboa, como também a de Braga, Viana do Castelo, etc.
A meu ver, os dados divulgados hoje não demonstram nenhum fenómeno social, mas antes um culminar de atitudes gerado por várias instituições que tratam o livro como um objecto. A verdade é que gosto de Feiras, já que sou um bibliófilo e procuro estar sempre rodeado de livros.
Quando me perguntam a opinião sobre as Feiras, tomo por minhas as palavras de Maria Gabriela Llansol, ao se referir, de forma implícita, a estes locais como meros cemitérios de livros. Algumas obras, tal como estão nos escaparates das lojas, não passam de bonitas lápides erguidas sobre as belíssimas histórias (ou não) que jazem no seu interior. O tratamento do livro como uma lápide não é a cerne da questão, no entanto a atitude comercial do problema começa por aí. Os livreiros, as editoras queixam-se das vendas, porque para eles os livros não passam disso mesmo, de vendas.
Os livros não são objectos mortos, não podem estar meramente pousados, à espera que alguém passe e os colhe como um cachorrinho numa montra.
Várias foram as vezes em que me envolvi em Feiras do Livro e constatei que as pessoas não manuseiam o livro enquanto tal, procuram antes as cores, os títulos, etc. Na pequena barraca onde estive toda a semana, o livro que mais vendeu foi, de facto, o que menos qualidade narrativa tinha, mas que trazia um título chamativo, com as palavras AMOR em destaque e com uma capa cor Pink. Mas ainda bem que o número de pessoas que pensam assim tem descido gradualmente, as denominadas pequenas editoras são prova disso, pois procuram dar resposta às pessoas que tal como eu gatinham, vasculam, procuram e sentam-se num banco a ler um pouco...
No entanto, nem todas as instituições têm esta atitude comercial com a obra de arte (atenda-se que me refiro à atitude comercial do lucro), tomemos como exemplo o Museu de Serralves: aquando uma exposição, a atitude não é a de pendurar, tão-somente, os quadros. A instituição procura sobretudo dar ao espaço um ambiente familiar. As pessoas não são convidadas a ir à exposição, as pessoas são antes parte da exposição. Há toda uma máquina cultural a trabalhar para o bom sucesso da arte. No jornal adquirimos, de imediato, livros referentes à temática, nos jardins esbarramos com pedaços da mesma, a exposição é estudada ao pormenor, os bancos frente aos quadros fazem-nos sentar neles, etc. A arte como espaço familiar é diferente ao livro como espaço de lucro. Por isso a Feira não pode esperar somente colocar os livros e “venham cá comprar”.
Estamos, nesta altura, imbuídos num universo futebolístico, por isso acabo o longo texto da seguinte forma: num jogo da Arte contra a Literatura poderíamos relatar Museu de Serralves 1 - Feira do Livro 0

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