fighting for peace is like fucking for virginity!

fighting for peace is like fucking for virginity!
anotações à obra A Escala do Meu Mundo, de João Barrento

i. procurei no dicionário a palavra ESCALA: uma relação de dimensões entre o desenho e o objecto representado; uma linha ou régua graduada; um registo que indica a ordem de serviço para cada um dos vários indivíduos; uma graduação, sucessão, uma classe; uma sucessão de notas musicais; uma força, insistência; uma escalada, um assalto a uma praça ou fortaleza por meio de escadas
ii.
e li A Escala do Meu Mundo como um somatório de todas as escalas, principalmente, como este último, um assalto a uma praça ou fortaleza por meio de escadas, uma vez que a Escala desta obra, embora traga na capa uma grandeza circular aparentemente fechada, é facilmente entendida, ao longo destas páginas, como funil dos mundos da inquietude e do “impoder”, que nos apontam a saída do poço que escalaremos ao enfrentar as formas de poder que trazem o ruído ao espaço do vivido
iii. a página em branco, o processo da gravidez da página é uma experiência equiparável quase ao da morte, porque não é uma experiência colectiva, mas única e própria de cada um dos indivíduos que aos poucos constroem o sentido da leitura. As páginas, que engravidadas pelo lápis funcionam como o prisma de newton, transformam o branco em cores textuais, mas só visíveis ao olho de quem as lê, ao olho treinado de um falcão
iv. tenho ao meu lado o exemplar de A Escala do Meu Mundo, sublinhado e anotado, porque constantemente o texto se constrói sobre outros textos, os de Maria Gabriela Llansol, Manoel de Barros, Pascal Quignard, este último, desconhecido para mim, mas que J. Barrento soube partilhar a curiosidade de o ler, aliás não só este mas tantos outros textos que aqui e ali aparecem implícitos na escala do mundo
v. hoje, enquanto lia algumas passagens sublinhadas, recordei “cartas a um jovem poeta” de Rilke, só que aqui João Barrento gera prismas de sentidos através de textos, também para jovens escritores, apontando e aconselhando implicitamente caminhos a evitar, como no caso daquilo que o autor denominou de RUT «Realismo Urbano Total», que, na sua forma mais acabada, se caracteriza acima de tudo por não ter estilo.
vi.
filha da vida que não renega a mãe, a crónica-de-ficção. Confesso que gostaria de escrever crónicas, mas não as sei fazer, nunca soube, porque para as escrever é preciso, essencialmente, ter uns olhos de falcão bem colocados sobre as lebres da sociedade. No entanto, como confessei recentemente ao autor, com a crónica morreria à fome, porque os meus olhos observam antes o voo das aves sobre a minha cabeça. João Barrento sabe que assim não se pode sobreviver, sabe que é essencialmente de lebres que se faz a crónica, por isso acusa, aponta aqueles que fogem para o buraco, sempre que a sombra de um falcão rasga a página do quotidiano. A lebre americana, o estilo de vida do ter-mais-do-que-ser, a globalização andam a correr de um lado para outro espavoridas nos textos desta obra. A democracia dos prazeres, uma outra escala, um outro sítio longe do MEU MUNDO
vii. fighting for peace is like fucking for virginity!

Comentários

J.B. disse…
Que mais posso dizer, meus amigos, senão. Obrigado! Ainda o livro mal aqueceu as prateleiras das livrarias, e já vocês o lêem e falam dele!
JB (Escrito a lápis)

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