Há, de facto, enraizado no português um sentido inconsciente de prisão colectiva, penso que isto já vem dos descobrimentos, no fundo os descobrimentos foram já então gerados por um sentimento de fuga.
Os guardas prisionais são os que todos os meses abrem as portas automáticas das celas onde vivem os portugueses, para lhes pedirem o crédito, as rendas, os juros, etc., e com guardas assim ninguém consegue fugir. Mas há os que procuram alguns subterfúgios durante as suas movimentações sempre suspeitas em torno do pátio vigilado da economia.
Hoje, enquanto voltava da minha habitual fuga da prisão, numa liberdade quase total em plena serra do Gerês, ouvi na telefonia uma publicidade ao Euromilhões que consistia no seguinte: uma fulana dizia uns números e no fim gritava em plenos pulmões “…VOU PARTIR…”. É este o sonho de todo o prisioneiro português, partir daqui. Porém, quando o faz, perde toda a originalidade da fuga dos seus antepassados durante os descobrimentos, pois procura sempre fugir pela porta da frente. Pouca imaginação meus senhores, pouca imaginação. Pela porta da frente, são raros os casos e só serve para manter os restantes na comodidade infantil da esperança de ser o próximo a sair. O Euromilhões foi criado para esta prisão, procurando criar autênticos cordeiros, pelo comodismo da esperança e o sucesso de raros casos. Não meus senhores para fugir desta prisão económica, onde nos meteram, só temos uma única escapatória, sentarmo-nos em frente à televisão e assistir à artimanha montada em Prison Break por Michael Scofield. Vejam, observem e aprendam e comecem já hoje a escavar um túnel para saírem definitivamente daqui…
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