prisma
a linha equacionada

a primeira experiência termina numa brecha de luz onde entram os novos compassos de pensamento
o olho aproxima-se até lhe ser dada a circunferência necessária
para visualizar a fuga da claridade exterior do mundo

dentro do escuro perscruta-se melhor o andamento das sombras
como negros lençóis, folheando as paredes
até a cadência do tempo apanhar o chão
e tudo parece estar certo como na boca do túnel

a segunda experiência termina numa linha de luz, ofuscado pela réstia luminosa que o deixa cego
o olho desvia-se, deixando passagem a um correcto fio
que despedaça o quarto em dois
e onde as delicadas partículas de pó
adquirem a face de habitáveis planetas
do microcosmos

a terceira experiência termina num cristal
correctamente pensado
o olho deseja, como provocação de um efeito,
o estranho vidro que apela ao desvio da linha
para constatar que, afinal, a metamorfose da luz gera borboletas

a quarta experiência toma o desvio matizado
e projectam-se cores particulares, variáveis de indivíduo para indivíduo
um escalonamento de vertigens com tonalidades
mais azul, para quem vê azul, mais roxo para quem vê roxo

as quatro experiências somam-se, por fim, no resultado de uma constatação
a luz apreendida tem o andar incerto dos cegos e a estreita linha vibra na tonalidade surda de um violino matemático, com estranhas claves equacionadas na parede escura de um quarto


c.v.

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