da idiocracia à imbecilidade

finalmente consegui ver o filme Idiocracy, uma comédia bem séria sobre um possível futuro, onde as pessoas se tornaram todas em idiotas. Segundo a ideia, o estado de evolução de Darwin parara algures no nosso século, e toda uma máquina de recuo evolutivo provoca um estado de burrice sem precedentes, funcionando a coisa desta forma: um casal de supostos “intelectuais”, devido à sua característica de "egoísmo pensante", apenas tem um filho, a este contrapomos um outro casal de classe mais baixa e menos exigente, com poucos estudos ou um planeamento familiar desarticulado, famílias com muitos filhos e que por sua vez originam outros tantos, etc. Segundo a leitura do filme, de aqui a 500 anos teremos uma população totalmente oriunda deste segundo casal. E assim se instala a evolução idiocrática.
Tenho verificado, como professor, que a imbecilidade está a crescer de forma assustadora e que se assim continuar não vão ser precisos os 500 anos. Mas o que posso contestar por experiência é que os objectivos mínimos instaurados na escola são mesmo muito mínimos e, por isso, a escala de exigência intelectual tem decrescido em todos os sectores do ensino. Neste seguimento, não concordo com a classificação generativa destes casais: classe baixa gera idiotas, classe intelectual gera intelectuais. Não, não me parece ser assim.
Vejo a sociedade como um enorme diapasão, uma vez que a mesma se sintoniza por um grau de exigência estipulado pelos objectivos intelectuais mínimos, causados pelos media, etc. Perante este diapasão que tudo subjuga, há os que, apesar disso, sendo ou não intelectuais, continuam a cantar sempre desafinado. E é esta a ideia que eu gostaria de ter lido no filme, a de que existirão sempre, na história, os descendentes de uma resistência à sociedade idiocrática, vinda de todos os sectores sociais.
Apesar da ideia do filme ser genial, penso que a mensagem foi abafada, perdendo-se no colorido e no festival exagerado de uma cultura carregada de objectivos mínimos. Apenas acrescento: de facto, a sociedade só se salvará da idiocracia, se todos, apesar de cantarem essencialmente desafinados, cantarem a mesma melodia. E já agora não se esqueçam que “no peito dos desafinados, também bate um coração”

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