não sou um bom apreciador da época do Carnaval. Ontem, presenciei, por breves instantes, um desfile de máscaras, e pude observar vários tipos de caretos improvisados. As pessoas entravam no desfile com farrapos trazidos de casa para o efeito. Bastava um pano a tapar a cara, umas roupas díspares e pronto, eram os caretos pobres no seu melhor.
Por entre os foliões mascarados estava um que me despertou a curiosidade, uma galinha que punha ovos, e ela cacarejava, penicava, esgaravatava, e no fim, de tempo em tempo, colocava-se numa posição cómica e lá saia mais um ovo. Cada um dos ovos trazia algo escrito que não consegui ler pela rapidez das coisas, penso que continham uma crítica social qualquer. O que pude ver, isso sim, foi que a galinha, que apenas trazia algumas caracterizações faciais, como o bico, era um senhor mecânico da terra, um mecânico que não conheço lá muito bem, mas que me pareceu bastante sisudo, aquando o último conserto do carro. E aqui está onde queria chegar, à magia única do Carnaval. Já explico…

Iniciei, ontem, a leitura dos diários de Kafka que me tem maravilhado, juntamente com a leitura de Fausto. A uma dada altura Kafka diz-nos:

“Nós e as pessoas que conhecemos somos (…) irreconhecíveis, porque estamos completamente escondidos, eu, por exemplo, estou escondido na minha profissão, nas minhas dores imaginadas ou reais, nas minhas tendências literárias, etc.”

e agora explico: o mecânico disfarçado de galinha, afinal não se mascarou, mas sim tirou a máscara da humanidade que o mantinha no sério, usou a criatividade, a sua imaginação, entrou no palco, fez-se galinha que põe ovos, revelou-se no anonimato para sair do seu esconderijo, e só por isso VIVA O CARNAVAL

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