a ilusão e o princípio da incerteza
o Pequeno Tratado sobre as Ilusões, de Paulinho Assunção, é um livro de pequenos contos onde a incerteza é, de facto, o mais certo. Na verdade, em cada um dos textos há uma ilusão gerada pela forma como uma determinado aspecto pode ser observado. O jogo textual remete-nos para um encontro com a noite ou com o abismo, onde “podemos iniciar a queda à região do limbo, região sem ordem e gramática que ele idealiza como sendo a dos loucos, território de vazios, sem céus ou infernos (p.36).” Descer pela escuridão do abismo, os corpos ganham formas adversas de encontros com o corpo animal ou vegetal (ou o corpo de uma amante). Nesse espaço de encontro com o incerto encontramos, aquilo que o narrador denominou, a uma dada altura, de “o eclipse dos mundos”. Uma vez aí, os seres inclinam-se para observar o buraco, o escuro, a noite. É neste estado de escuta, quando o corpo se inclina sobre a incerteza de um facto anteriormente positivo, mas agora ofuscado, que se criam as incertezas, como o exemplo da mulher que procura ouvir o gemido das plantas, o homem que, de tanto ficar junto a um muro para observar a direcção dos ventos, confundiu-se com o musgo e a humidade, passando também a observar a chuva, etc.
É realmente muito interessante a postura dicotómica do narrador com a sua observação. Em cada um dos textos, deparamos com duas formas distintas de observar (ou escutar, tanto faz). Assim a uma primeira observação certa, positiva, real, lúcida onde se descreve o quotidiano do narrador e das personagens, sucede-se uma outra, a da incerteza dos corpos e do mundo, que ao aproximar do escuro, da noite, do abismo, gera possibilidades de encontro com as ilusões. Um observação do principio da incerteza, onde o corpo adquire tantos outros jogos de possibilidades concretizáveis com os estranhos seres do texto. A propósito disto confessou-nos o autor nesta entrevista: “tudo isto faz parte de um certo trato com o real: enxergar no real a prenhez de outras realidades, realidades que os nossos olhos nublados pela secura do fato não mais enxergam.”
Nada mais digo, apenas que esta foi para mim uma bela obra de fruição. Uma obra imperdível de facto
É realmente muito interessante a postura dicotómica do narrador com a sua observação. Em cada um dos textos, deparamos com duas formas distintas de observar (ou escutar, tanto faz). Assim a uma primeira observação certa, positiva, real, lúcida onde se descreve o quotidiano do narrador e das personagens, sucede-se uma outra, a da incerteza dos corpos e do mundo, que ao aproximar do escuro, da noite, do abismo, gera possibilidades de encontro com as ilusões. Um observação do principio da incerteza, onde o corpo adquire tantos outros jogos de possibilidades concretizáveis com os estranhos seres do texto. A propósito disto confessou-nos o autor nesta entrevista: “tudo isto faz parte de um certo trato com o real: enxergar no real a prenhez de outras realidades, realidades que os nossos olhos nublados pela secura do fato não mais enxergam.”
Nada mais digo, apenas que esta foi para mim uma bela obra de fruição. Uma obra imperdível de facto
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