autor desconhecido
título: Refém do Medo
a propósito da suspensão do professor e ex-deputado Fernando Charrua (ler aqui notícia), por alegadas anedotas ou palavras dirigidas ao socialmente compreensível e já perdoado e também portador de um diploma (o Primeiro-Ministro), ando a ler uma obra imprescindível de Fernando Nogueira Dias O Medo Social e os Vigilantes da Ordem Emocional, que desde já aconselho vivamente a leitura. Como nos diz Fernando Nogueira: Temos medo que nos falte a subsistência e as condições básicas de protecção e segurança do nosso corpo. Temos medo de perder ou não termos capacidade de nos afirmar como seres únicos. Temos medo de não sermos aceites ou sermos rejeitados pelos outros. Temos medo de que um dia tenhamos de prestar contas por aquilo que fizemos ou por aquilo que deixamos de fazer, enquanto errantes deste mundo. Temos medo dos nossos fracassos.
Ora todo o português, desde o 25 de Abril, tem dito as mesmas alegadas palavras, atribuídas a Fernando Charrua, entre amigos ou em público, por se sentir livre, livre de as exprimir, porque um bom palavrão vale por todas as explicações possíveis. As palavras exprimiam-se sempre como uma opinião, e qualquer palavrão dito com raiva ou não, é sempre uma expressão livre de explodir. É certo que as palavras não fazem sangrar, nunca o fizeram, mas sim o medo de as dizer, o medo é que faz sangrar o portador que é obrigado a reter a sua explosão, o medo social que nos aperta em rebanho (a propósito visualizem o novo espaço da Casa ORNATO). Trocamos uma ditadura por outra. Falhamos, porque atribuímos de novo o poder ao poder. A nova ditadura do exemplo das supostas democracias bem comportadas.
Neste fim-de-semana, fui entrevistado pelo jornalista José Manuel Costa para a rádio Antena Minho, a propósito de Capricho 43, onde falamos precisamente do Medo Social, e de como o 25 de Abril falhou por não ter servido também como uma necessária escola de revolucionários. Não há revolucionários, há apenas uma cambada de meninos socialmente bem comportados e cheios de medo, um r-e-b-a-n-h-o.
É sabido que quem está num cargo público tem de aprender a lição com o árbitro num estádio de futebol… ou não seria ele o centro da explosão de opiniões adversas.
A verdade é que não sei se Fernando Charrua tem ou não razão, mas que serviu de exemplo, isso serviu, e esse é o novo lápis azul da democracia: alguém terá sempre de servir de “Exemplo” para educar, ora digam lá "mééééé..."

Comentários

Anónimo disse…
O que me incomoda é que todos embandeirem em arco com o que a imprensa lhes mete pelos olhos dentro, num consumo acrítico. Todos os factos têm várias versões, mas a habilidade política do PSD trabalhou muito bem neste caso. Por mim acho que as pessoas sensatas deveriam tentar conhecer o caso na sua totalidade/complexidade em vez de se pronunciarem com tanta lineariedade sobre uma realidade da qual desconhecem parte. Não comungo da ideia do lápis azul, mas sim de que até os mais informados, os, intelectuais e os que se acham mais críticos, caem na esparrela das meias "verdades" da comunicação social do mesmo modo que os menos cultos, menos, informados, consumindo acriticamente o que dão a conhece. Isto é que me mete medo no meu Portugal!

C L Faria

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