"O FRAGMENTADO FEMININO" DE JÚLIO CUNHA
20 x 15 cm
2004
os trabalhos sobre o nu feminino na pintura de Júlio Cunha apreendem as temáticas mais belas com que me tenho deparado nos últimos tempos. A primeira vez que observei uma obra deste artista foi quando visitei com a Catarina a Bienal de Cerveira. Por entre as centenas de trabalhos de referência, mas ao mesmo tempo, na sua maior parte, extremamente aborrecidas, encontramos uma obra que nos fez demorar os olhos. Ficamos a contemplar o traço do nu opaco dos corpos que variam entre o erótico lácteo do branco, o amarelado, o cremado, etc., do tom e traço da pele que aqui e ali se apagavam pela esbranquiçada cor de um nevoeiro, um véu ou fragmentos causados por constantes recortes, buracos e colagens com que vai desvelando o estranho universo fragmentado do feminino. Do que vi, visitei e li posso sugerir que o erótico feminino é sem dúvida melhor desenhado por um homem, por saber onde retocar e desenhar toda confluência da linha dos seios, tal como a lê. Enquanto, por sua vez, o nu masculino é melhor traçado por uma artista. Desculpem-me os entendidos que com certeza refutarão esta ideia, mas pelo menos assim sinto a pintura do nu. Uma mulher, que pinta o feminino, não sabe o traço que dilata as pupilas gustativas do homem. Ora, nas pinturas de Júlio Cunha, a mágica forma do feminino é desvelada apenas onde o autor eroticamente o permite (aqui está a leitura masculina), recortando, aqui e ali, a sensualidade, não para a enfraquecer, mas pelo contrário, lhe salientar a força sensual das cores e formas.
Para mim uma descoberta magnífica de enaltecer, a pintura e os trabalhos de Júlio Cunha
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