A COISA CRÓNICA (haverá vida para além do trabalho?!)
no instaurado puritanismo dos cargos de chefia da sociedade ocidental, há algo que não suporto, a imposta e exigente caça aos que ainda pensam que possa existir vida para além do trabalho, vida incompatível com a exigente mostarda no nariz laboral, com o faz de conta da papelada e dos estúpidos dossiers e portefólios, que estão tão na moda, para se poder mostrar à sociedade que é gente e sabe cumprir objectivos estonteantes e puramente estatísticos. Não sou um devoto da preguiça ou da irresponsabilidade, mas não gosto de trabalho-dependentes que chegam a cargos de chefia, prefiro sempre dar-me com os desleixados-profissionais (aqui me refiro àquele que encontra sempre a ordem na sua própria desordem). O desleixado-profissional aponta num guardanapo ou risca na mão para se recordar, e estes utensílios são a sua agenda tecnológica, geralmente não usa relógio e chega sempre atrasado às reuniões; o trabalho-dependente é uma chato estrondosamente aborrecido, usa agendas devidamente vincadas, entrega esquemas e grelhas em Excel, chega sempre a tempo às reuniões. Normalmente, este último tem um ódio profundo ao desleixado-profissional por entender que este recebe o mesmo vencimento e no fundo apresenta o trabalho exigido sempre feito, embora esteticamente pouco apresentável. Por sua vez, o desleixado-profissional tem um óptimo inter-relacionamento com os colegas e todos se riem com as as suas piadas, enquanto o trabalho-dependente é extremamente aborrecido e só fala das coisas do escritório, e todos fogem dele por ser um "secas". o DP gosta de sair com os amigos e tomar umas "bejecas", divertir-se com a família, chegar a casa cedo, enquanto o TD não.
Nos últimos anos, o local de trabalho tem mudado muito, e é um facto que os desleixados-profissionais são cada vez menos... infelizmente uma espécie em via de extinção, por isso os locais de trabalho têm se tornado cada vez mais aborrecidos e os dias no escritório tornaram-se longos e monótonos, cheios de papéis e pastas de arquivo. Cada vez há mais chefões, chefes e chefinhos, cada vez há mais gráficos e agendas. A sociedade está toda industrialmente achinesada. Os desleixados são agora seres que vivem num outro mundo, no mundo das costas da mão