A FABULOSA VOZ DE UM BOBO SEM NOME
ontem, lá entrei na belíssima Sala Suggia - a Ex-libris da Casa da Música, Porto - para assistir à Ópera Rigoletto de Giuseppe Verdi. O espaço é deveras majestoso e talvez a única sala na Europa com aquelas características sonoras.
Quando se reúne um grupo de intérpretes tão fabuloso como o que anunciaram, o resultado era de esperar. De facto a Orquesta Nacional do Porto, convidou, para levar a cabo este projecto, o maestro Marin André, para além de um elenco internacional de solistas bem referido e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos.
Desde de o início me interrogava como é que concretizariam uma ópera tão expressiva, com um cenário pesado, num espaço contemporâneo tão envidraçado e minimalista. Pois é, na verdade, os cenários, bem como os adereços, foram realmente concretizados da melhor forma, pois simplesmente não existiam. A imaginação do espectador é que tinha de ser o verdadeiro cenógrafo da peça. Uma simples entrega de chaves era indicada através de uma mão aberta estendida, um punhal era expressivamente levantado apenas com uma mão em punho, o barco era uma das cadeiras de orquestra. As roupas eram meramente formais: fato gravata, vestidos de noite simples. O que importava ali eram realmente as vozes, os gestos expressivos, a música. Esta última soube bem aproveitar as condições únicas de sonoridade daquela enorme sala com provavelmente 1238 pessoas a assistir. Muitos dos locais onde assisti a óperas, algumas vozes acabavam por se apagar nos fortes instrumentos de sopro, ou num coro algo mais estrondoso. Nesta sala isso é impossível de acontecer, cada voz, cada violino ou violoncelo… ocupavam o devido e correcto espaço, na melodiosa cena. Esta foi, sem dúvida alguma, a melhor interpretação de uma ópera que alguma vez tenha assistido.
Para todo este elenco um BRAVISSIMO