"O Deus das Moscas" de William Golding

a ilha onde um porco também é deus
ando para vos falar há algum tempo do livro de William Golding, "O Deus das Moscas". Uma obra de uma mestria meticulosa, onde as brincadeiras das crianças, que coabitam numa ilha inóspita e sem gente crescida, gradualmente se "amorfam" numa sopa cada vez mais sintomática, aquando a lenta transfiguração do corpo do indivíduo em grupo. A metamorfose do corpo é-nos narrada pela desfiguração do humano, através da sujidade e das pinturas traçadas pela necessidade da caça e pelo medo de um monstro invisível, algures na floresta.
O medo parece falar por uma amputada cabeça de porco coberta de moscas que se ergue espetada numa estaca, num espaço recôndito da selva. Este medo pelo monstro leva ao grupo proteger-se num conjunto de regras, como um garante da própria sobrevivência, ditadas pela autoridade de um chefe que os acolhe na assembleia, após aclamar a coesão do mesmo, através do som de um búzio. A assembleia rodeia-se então de vozes sábias como a do gorducho Piggy, o portador do fogo, dos óculos da razão, e de Simon, a única criança que conhece o verdadeiro segredo do monstro, entre outros.
Mas depressa o grupo se divide em dois, o grupo dos caçadores e o dos que protegem o fogo da esperança e da razão que gradualmente se vai apagando. Por fim, as crianças tornam-se monstros, numa luta pelo poder da istmo e do abismo.
Posso-vos dizer que esta foi uma fabulosa descoberta, um dos melhores livros que li recentemente. Se ainda não o leram, façam-no já, verão que tenho razão

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