"Ich bin der Welt abhanden gekommen" de Gustav Mahler

descrição de um instante em torno do prazer
ontem tive um "pequeno" encontro com as mesmas faúlas que nos fazem experimentar o amor, os pequenos momentos de prazer que nos fazem ter ultra-asas, bem melhores do que as dos anjos... conduzia à chuva, com a Antena 2... e foi então que me arrepiei, não de frio, mas no arrepio audível com uma ária de um compositor, até então na minha total ignorância. A música soava-me como os frutos silvestres de um bosque derretidos na boca, o coração despedaçou-se com algo mais forte que o próprio amor, por ser tão breve como os arco-íris, com cornucópias e sístoles ritmadas por um som amendoado de clarinete. A voz de uma soprano, serpenteava com as mesmas gotas que escorriam nos vidros. Enchi-me então de prazer único, o mesmo prazer com que os lobos uivam ao luar, o prazer do instante irrepetível que nos inunda a espinha, envolvendo os olhos num solvo, para dentro do próprio corpo, por tentarmos procurar a explosão vulcânica do que faz de um instante o prazer único de sermos vivos e de tudo isto, afinal, valer mesmo a pena. Assim descrevo a música de ontem à noite, esse momento único pintado com a mesma cor de prata cinzenta do início de uma noite chuvosa.
Aguardei o fim da música com o desejo que ela nunca acabasse e fui descendo... pacientemente, em cada degrau que desenha a alma de um violino. No final, quem sabe e me ensina apresentou-me à voz de Madalena Kožená e ao compositor Gustav Mahler, assim se chamam os responsáveis por este instante em torno do prazer

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