A desumanização dos hospitais e o curral público
há dias precisei de ir às urgências do hospital público, mais propriamente ao hospital de Viana do Castelo, para tratar uma súbita dor de costas. O que eu não sabia é que estava prestes a ter uma das piores experiências dos últimos tempos, só digna de uma vítima de um filme de terror mal feito e de fraca qualidade.
O atendimento entre berreiros e maus cheiros, numa sala de espera que fazia lembrar alguns guetos da ex-União Soviética, foi demasiado irrealista, mas como estava carregado de dores lá tive de aguentar um pouco aquele cenário dantesco, mesmo à porta daquela que eu acreditava ser a minha salvação.
Enquanto esperava pude observar como tudo se movia na sala da agonia e das dores, os doentes foram ali tratados realmente como gado numa espécie de talho público, alinhados por um guarda corpolento de uma empresa de segurança que parecia saber lidar mais com presos do que doentes, e que ali tratava a gente com a mesma frieza de quem abre a porta da masmorra ou de uma câmara de gaz.
Os doentes - inclusive eu, cujo destino se adivinhava ser o mesmo - esperavam ser marcados por alguma espécie de ferro em brasa que os permitia ir para o estábulo. A voz distorcida e mecânica que saia das colunas era digna deste filme de terror que se desenrolava mesmo ali à minha frente, no qual eu já era um dos figurantes condenados à má sorte daquele tirano que me iria tratar da saúde talvez, quem sabe, como só um bom veterinário o faz (cont.)
O atendimento entre berreiros e maus cheiros, numa sala de espera que fazia lembrar alguns guetos da ex-União Soviética, foi demasiado irrealista, mas como estava carregado de dores lá tive de aguentar um pouco aquele cenário dantesco, mesmo à porta daquela que eu acreditava ser a minha salvação.
Enquanto esperava pude observar como tudo se movia na sala da agonia e das dores, os doentes foram ali tratados realmente como gado numa espécie de talho público, alinhados por um guarda corpolento de uma empresa de segurança que parecia saber lidar mais com presos do que doentes, e que ali tratava a gente com a mesma frieza de quem abre a porta da masmorra ou de uma câmara de gaz.
Os doentes - inclusive eu, cujo destino se adivinhava ser o mesmo - esperavam ser marcados por alguma espécie de ferro em brasa que os permitia ir para o estábulo. A voz distorcida e mecânica que saia das colunas era digna deste filme de terror que se desenrolava mesmo ali à minha frente, no qual eu já era um dos figurantes condenados à má sorte daquele tirano que me iria tratar da saúde talvez, quem sabe, como só um bom veterinário o faz (cont.)